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PLURAL: os textos de Atílio Alencar e Fabiano Dallmeyer

  • Os bares da vida
    Atílio Alencar
    Produtor cultural

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    A boemia, o convívio descomprometido entre pessoas e grupos nem sempre convergentes, mas geralmente dispostos a prolongar a conversa até o anúncio da saideira, é uma marca registrada dessa verdadeira tribuna popular que é o bar. Quer dizer, nem todo bar. Há um tipo muito específico, embora passível de amplas variações, que define o bar democrático por excelência, reconhecível tanto pelo seu ambiente quanto por sua fauna - ambos, cenário e atores, dramaticamente associados.

    RARIDADES

    Esse bar que serve de reduto para quem procura a experiência ao mesmo tempo prosaica e sublime de dividir a mesa ou o balcão com ilustres desconhecidos, para entre um gole e outro proferir suas convicções, teses e dores-de-cotovelo, está em vias de extinção.

    Não creio estar sendo exagerado ao observar isto; nas tantas cidades do interior que visitei em anos recentes, quase toda a galeria de bares antigos, clássicos pela vocação em reunir gente diversa e fiel, pelo acesso gratuito e pelos preços populares, faz parte da memória da população, mas poucos resistiram à ascensão de outros perfis de empreendimento.

    Num fenômeno semelhante ao desaparecimento dos cinemas de calçada, os bares democráticos estão sendo, aos poucos, inviabilizados por investimentos de natureza mais fria, indiferentes à freguesia leal que adotava como segundo lar seu boteco predileto. Em substituição, há um surto de lugares sem identidade nem história, que ostentam na fachada a nomenclatura de pub ou bistrô.

    Claro, os tempos mudam, e é natural que alguns traços culturais percam intensidade. Mas perambular pelas ruas de Santa Maria e encontrar tão poucos bares de caráter popular no centro, e confirmar esta mesma realidade quando visito outras cidades, não deixa de ser uma experiência melancólica.

    Em Porto Alegre e outras capitais, talvez pela estratégia publicitária de engajar novos públicos, há mais focos de resistência boêmia. Impossível não pensar no Odeon, por exemplo, ou mesmo no soturno Van Gogh, quando lembro das noites porto-alegrenses. São bons exemplos, cada qual ao seu modo, do tipo de bar ao qual me refiro.

    Já em Santa Maria, sinceramente, penso que andamos desperdiçando boa parte da memória urbana da cidade, ao sermos cúmplices da troca de uma boa conversa de bar por bares onde a imagem é o que conta. O declínio boêmio, admito, é uma coisa que me preocupa - culturalmente falando.



    Plantio direto
    Fabiano Dallmeyer
    Fotógrafo

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    Plantio direto é um sistema diferenciado de manejo do solo, visando diminuir o impacto da intensidade da agricultura e das máquinas agrícolas sobre ele. A utilização do plantio direto no lugar dos métodos tradicionais tem aumentado significativamente nos últimos anos. Com este sistema, a palha e os demais restos vegetais de outras culturas são mantidos na superfície da terra, garantindo cobertura e proteção contra processos danosos, tais como a erosão.

    Na Região Sul, o alto potencial erosivo das chuvas, aliado ao desmatamento e início da mecanização intensiva para preparo do solo, principalmente a partir da década de 70, determinaram um processo de erosões de grande escala. O pesadelo das erosões foi o principal agente de conversão de sistemas tradicionais convencionais para a utilização do plantio direto com mínimo distúrbio de solo.

    O PRINCÍPIO NO BRASIL

    Em 1971, o produtor Herbert Bartz (foto), de Rolândia (PR), começou a buscar uma alternativa ao sistema convencional de preparo do solo, que causava tanta erosão principalmente após as chuvas fortes da região. Teve conhecimento de uma técnica em que eram abertos sulcos no solo para deposição de sementes e fertilizantes sem revolvimento, que foi batizada como "Plantio Direto". Bartz seguiu para a Inglaterra e buscou conhecimentos sobre equipamentos para realizar o sistema, conhecido em inglês como No-Till (sem preparo de solo). Esse bravo homem começou o Plantio Direto semeando 200 hectares de soja, em outubro de 1972, fazendo o primeiro plantio em larga escala sem revolver o solo da América Latina. Os vizinhos começaram a dizer que ele havia enlouquecido. O fato era tão inédito que a Polícia Federal apreendeu toda a produção de soja resultante daquela iniciativa. Lembrando as atrocidades que aconteceram com os transgênicos, não?

    Mas Herbert Bartz não era de esmorecer. Pelo contrário. Passou a difundir o Sistema Plantio Direto para quem quisesse aprender, de graça, sem cobrar nada de ninguém. A partir daí, o Plantio Direto foi adotado em outras regiões do Paraná, do Brasil e da América do Sul. Em 1979, com a liderança dos produtores dos Campos Gerais (PR), Franke Dijkstra e Manoel "Nonô" Henrique Pereira, que haviam adotado o Plantio Direto em 1976 baseados na experiência de Bartz, criaram o Clube da Minhoca, em Ponta Grossa (PR), que foi a primeira organização de produtores para disseminar e promover a adoção do sistema.

    FICA O LEGADO

    Nascido em Rio do Sul (SC), em 14 de fevereiro de 1937, filho de imigrantes alemães, Bartz passou boa parte da infância e da juventude na Alemanha, em meio à Segunda Guerra Mundial. Faleceu no dia 29 de janeiro de 2021, em Rolândia (PR), aos 83 anos. Ele deixa a esposa Luíza, a filha Marie e o filho Johann Bartz, que seguem os passos do pai.

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